Quem vive a realidade do mercado artístico no Brasil, sabe que não é nada fácil. Incentivos públicos cada vez mais difíceis, mercados dominados por segmentos específicos, sem contar muitas vezes a imprevisibilidade do dinheiro no fim do mês.
Eu com os meus 17 anos, recém formado no ensino médio vivendo no interior de São Paulo, vivi a realidade de muitos jovens de não ter condições de ir para a capital e fazer o seu curso de Artes Cênicas, e precisar escolher um curso na sua cidade. Pois bem, precisava escolher um curso que se aproximasse do meu sonho em um cardápio mega limitado de opção. Escolhi o curso de comunicação visual com atuação na área de Publicidade e Propaganda, pois era o único que possuía uma disciplina de criação. Era só o que eu queria, criar e ser reconhecido pelo o meu trabalho e de alguma forma atravessar o mundo. Foi difícil no começo, não consegui bolsa e trabalhava como vendedor em uma loja de sapato para pagar a minha mensalidade. Fora o esforço dos meus pais para me ajudar com as mensalidades. Me formei, comecei a trabalhar na área, e mesmo ficando muito feliz com os meus layouts, o meu corpo necessitava se expressar. Fui para Salvador fazer finalmente minha graduação em uma área artística, e em 2016 comecei a licenciatura em dança na UFBA. Eu digo que renasci nesse momento, conheci a dança para além de técnicas, e sim, como área de conhecimento, me entendi enquanto negro gay, tive aula com mestres incríveis e me desenvolvi enquanto artista. Hoje sou dançarino, publicitário, produtor, performer, poeta, ator, designer gráfico e editor de vídeo.
A publicidade sempre me ajudou na minha renda mensal, oferecendo serviços de gerenciamento de mídia para empresas de São Paulo e Salvador. Comecei a fazer alguns serviços para artistas amigos meus e comecei a perceber o quão era difícil para os artistas que estavam ao meu redor se auto-promoverem. Quando eu falava dos meus serviços, todos se assustavam com a ideia de ter um gerenciador de mídia particular, imaginando preços altíssimo. Ser artista independente e estudante de Universidade Federal é barril.
Surge o Núcleo Dia Adia e já me interesso em ajudar de alguma maneira os meus amigos, artistas incríveis que possuíam 1000 ideias e pouco dinheiro. E o fato de passar a ler muito *bell hooks, falando dos expectadores negros das mídias em massa, me fez criar o DIA ADIA PUBLICIDADE, para utilizar o meu olhar e vivência enquanto artista e o meu conhecimento em publicidade e marketing, fomentando as criações dos artistas.
Acredito enquanto produtor artista negro, que precisamos sempre criar estratégias para ajudar os nossos, a todos. Em tempos conturbados, a arte existe para denunciar, refletir, sonhar, cutucar, esclarecer e trazer mais dúvidas. Utilizar conhecimento de outras áreas para somar, auxilia na construção de uma rede de trocas de conhecimento.
Vamos construir esse Dia Adia juntos?
*Gloria Jean Watkins, mais conhecida pelo pseudônimo bell hooks, é uma autora, teórica feminista, artista e ativista social estadunidense.
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